Norbert Elias e Eric Dun ning veem na esportivização da caça à raposa o núcleo exemplar e precoce do processo total pelo qual foram cria dos os esportes modernos. A morte do animal já não se destina, como na caça propriamente dita, a tomá-lo como alimento, muito menos é a ocasião de uma oferenda sacrificial. O que importa, em vez disso, é criar as condições de uma perseguição simulada em que o equilíbrio de forças e a postergação do clímax dão a esses o seu maior rendimento catártico possível. Garantir a justa medida de tensão agradável e emoção prazenteira pela batalha fingida, sem produzir danos (a não ser à raposa), é o cerne dessa forma de “figuração”. Estamos longe, evi den te mente, do rito assumido, do sacrifício ou da troca recíproca projetada como função reguladora da violência e compartilhada como festa e luta, em que o jogo é ofertado ao todo. Agora, o monopólio da violência pelo Estado, atado à Lei, rege a concorrência e tem como horizonte controlar todas as dimensões da expressão vital — o todo rege o jogo.
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