A
concepção do progresso, subjacente tanto ao otimismo burguês como ao reformismo social-democrata, tem como substrato uma concepção
otimista da História, para a qual a humanidade caminha em direção a um objetivo futuro. Mas a verdadeira salvação não
está no futuro, e sim, de certa forma, no passado. O papel da revolução está
em dar “um salto de tigre em direção ao passado15 70, a fim de
liberar os diversos presentes cativos, e
que aguardam de nós a sua redenção. Pois a nós, como a cada geração, foi
concedida uma “frágil força messiânica3' que nos permitiria, em
cumplicidade com os mortos — as gerações incontáveis dos oprimidos ao longo
de todo o passado humano — corrigir os desastres da história e recompor os
escombros acumulados por essa “tempestade a que chamamos progresso”.
Essa concepção “barroca” da história, em que ela é
vista alegoricamente, no sentido preciso que Benjamin dá ao termo — a história do
mundo como um acúmulo de ruínas — tem, sob certos aspectos, algumas analogias
com a concepção de Bloch. Convém lembrar que se Benjamin conhecia O
espirito da utopia, publicado em 1919,
Bloch certamente conhecia as teses sobre a filosofia da História, das quais
extraímos os fragmentos acima, e que foram publicadas em 1942 por Horkheimer e
Adorno. É o que explica a forte presença em Bloch de motivos benjaminianos. A
frase de O principio esperança, já citada: “o futuro não-realizado se toma visível no passado,
enquanto o passado, vingado e recolhido como uma herança, toma-se visível no
futuro” 77, é praticamente uma paráfrase daquelas teses. A concepção
do sonho prospectivo, de Bloch — o Träumen nach Vorwärts — já está prefigurada na
tese de Benjamin de que “cada época sonha não somente a próxima, mas ao sonhá-la força-a
a acordar” 7a.
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