domingo, 24 de maio de 2015

história para Benjamin no Livro de Habermas - Coleção Sociologia.



...o da utopia — pode ser introduzido com a citação de um texto capital, em que Benjamin descreve um quadro de: Klee, o Angelus Novus: 

“Ele representa um anjo, que parece querer afastar-se de algo, que encara com temor... Seu rosto está voltado para o passado., * Este é o aspecto que necessariamente deve ter o anjo da Historia. Nos lugares em que para nos emerge uma seqüência de acontecimentos, ele percebe uma única catástrofe. . . Ele gostaria de permanecer, para ressuscitar os mortos e reparar as ruínas. Mas, uma tempestade vinda do paraíso. . . o impele incessantemente em direção ao futuro, para o qual dá as costas... A tempestade é o que chamamos de progresso” 7C.

A concepção do progresso, subjacente tanto ao otimismo burguês como ao reformismo social-democrata, tem como substrato uma con­cepção otimista da História, para a qual a humanidade caminha em direção a um objetivo futuro. Mas a verdadeira salvação não está no futuro, e sim, de certa forma, no passado. O papel da revolução está em dar “um salto de tigre em direção ao passado15 70, a fim de liberar os diversos presentes cativos, e que aguardam de nós a sua redenção. Pois a nós, como a cada geração, foi concedida uma “frágil força mes­siânica3' que nos permitiria, em cumplicidade com os mortos — as gerações incontáveis dos oprimidos ao longo de todo o passado humano — corrigir os desastres da história e recompor os escombros acumulados por essa “tempestade a que chamamos progresso”. 

Essa concepção “barroca” da história, em que ela é vista alegoricamente, no sentido preciso que Benjamin dá ao termo — a história do mundo como um acúmulo de ruínas — tem, sob certos aspectos, algumas analogias com a concepção de Bloch. Convém lembrar que se Benjamin conhecia O espirito da utopia, publicado em 1919, Bloch certamente conhecia as teses sobre a filosofia da História, das quais extraímos os fragmentos acima, e que foram publicadas em 1942 por Horkheimer e Adorno. É o que explica a forte presença em Bloch de motivos benjaminianos. A frase de O principio esperança, já citada: “o futuro não-realizado se toma visível no passado, enquanto o passado, vingado e recolhido como uma herança, toma-se visível no futuro” 77, é praticamente uma paráfrase daquelas teses. A concepção do sonho prospectivo, de Bloch — o Träumen nach Vorwärts — já está prefigu­rada na tese de Benjamin de que “cada época sonha não somente a próxima, mas ao sonhá-la força-a a acordar” 7a

Nenhum comentário:

Postar um comentário