Koselleck, Reinhart, 1923-2006
Futuro passado: contribuição à
semântica dos tempos históricos / Reinhart Koselleck; tradução do original
alemão Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira ; revisão da tradução César
Benjamin. - Rio de Janeiro : Contraponto : Kd. PUC-Rio, 2006. 368p.; 23 cm Tradução
de: Vergangene Xukunft ISBN 85-85910-83-6 1. História - Filosofia. 2. História
- Periodização. 3. Historiografia. I. Título. CDl) 901 06-2275 CDU 930.
PREFÁCIO –p.17
A hipótese que se apresenta aqui é a de que, no processo
de determinação da distinção entre passado e futuro, ou, usando-se a
terminologia antropológica, entre experiência e expectativa, constitui-se algo
como um “tempo histórico”. É próprio das circunstâncias biologicamente determinadas
do ser humano que, com o envelhecimento, também a relação com a experiência e a
expectativa se modifiquem, seja por meio do recrudescimento de uma e
desaparecimento da outra, seja por meio de um mecanismo em que ambas se
compensem mutuamente, seja ainda pela constituição de horizontes situados além
da biografia de cada um, que ajudem a relativizar o tempo finito de uma vida
individual. Mas a relação entre passado e futuro alterou-se, de forma evidente,
também na seqüência das gerações históricas.
Nos estudos que se seguem,
evidencia-se como um resultado constante o fato de que, à medida que o homem
experimentava o tempo como um tempo sempre inédito, como um “novo tempo”
moderno, o futuro lhe parecia cada vez mais desafiador. É por isso que nossa investigação
incide particularmente sobre um determinado tempo presente e sobre o tempo que
se lhe apresentava então como o futuro, ora para nós já decorrido. E, se no
cômputo da experiência subjetiva, o futuro parece pesar aos contemporâneos por
ele afetados, é porque um mundo técnica e industrialmente formatado concede ao
homem períodos de tempo cada vez mais breves para que ele possa assimilar novas
experiências, adaptando-se assim a alterações que se dão de maneira cada vez
mais rápida.
Sob o ponto de vista dessas
investigações, mantém-se inalterada a importância das condições de longa
duração que se perpetuam desde o passado, condições que, aparentemente, caíram
no esquecimento. Esclarecê-las é tarefa da história estrutural, à qual os
seguintes estudos pretendem ter dado sua contribuição.
No que diz respeito à
metodologia, as investigações concentram-se na semântica dos conceitos
fundamentais que plasmaram a experiência histórica do tempo. O conceito
coletivo de história [Geschichte], forjado no século XVIII, tem aqui um
significado predominante. Por meio desse conceito é possível demonstrar que
certos mecanismos e formas de elaboração da experiência só puderam emergir a
partir do advento da história [Geschichte] vivenciada como um tempo novo, inédito.
Nosso conceito moderno de história [Geschichte] resultou da reflexão iluminista
sobre a crescente complexidade da “história de fato” ou da “história em si”
[“Geschichte überhaupt”], na qual os pressupostos e condições da experiência escapam,
de forma crescente, a essa mesma experiência. Isso é válido tanto para a
história universal de longo alcance geográfico, contida no conceito moderno de
“história em si” ou “história de fato”, quanto para a perspectiva temporal na
qual passado e futuro realinham-se recíproca e alternadamente, de maneira
contínua. Esta última tese, disseminada ao longo de todo o livro, constitui o
objetivo final da categoria da temporalização.
As análises englobam inúmeros
conceitos como revolução, acaso, des¬tino, progresso ou desenvolvimento,
conceitos capazes de complementar o próprio conceito de história [Geschichte].
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