domingo, 2 de agosto de 2015

Koselleck, Reinhart, 1923-2006



Koselleck, Reinhart, 1923-2006
Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos / Reinhart Koselleck; tradução do original alemão Wilma Patrícia Maas, Carlos Almeida Pereira ; revisão da tradução César Benjamin. - Rio de Janeiro : Contraponto : Kd. PUC-Rio, 2006. 368p.; 23 cm Tradução de: Vergangene Xukunft ISBN 85-85910-83-6 1. História - Filosofia. 2. História - Periodização. 3. Historiografia. I. Título. CDl) 901 06-2275    CDU   930.

PREFÁCIO –p.17

A hipótese que se apresenta aqui é a de que, no processo de determinação da distinção entre passado e futuro, ou, usando-se a terminologia antropológica, entre experiência e expectativa, constitui-se algo como um “tempo histórico”. É próprio das circunstâncias biologicamente determinadas do ser humano que, com o envelhecimento, também a relação com a experiência e a expectativa se modifiquem, seja por meio do recrudescimento de uma e desaparecimento da outra, seja por meio de um mecanismo em que ambas se compensem mutuamente, seja ainda pela constituição de horizontes situados além da biografia de cada um, que ajudem a relativizar o tempo finito de uma vida individual. Mas a relação entre passado e futuro alterou-se, de forma evidente, também na seqüência das gerações históricas.
Nos estudos que se seguem, evidencia-se como um resultado constante o fato de que, à medida que o homem experimentava o tempo como um tempo sempre inédito, como um “novo tempo” moderno, o futuro lhe parecia cada vez mais desafiador. É por isso que nossa investigação incide particularmente sobre um determinado tempo presente e sobre o tempo que se lhe apresentava então como o futuro, ora para nós já decorrido. E, se no cômputo da experiência subjetiva, o futuro parece pesar aos contemporâneos por ele afetados, é porque um mundo técnica e industrialmente formatado concede ao homem períodos de tempo cada vez mais breves para que ele possa assimilar novas experiências, adaptando-se assim a alterações que se dão de maneira cada vez mais rápida.
Sob o ponto de vista dessas investigações, mantém-se inalterada a importância das condições de longa duração que se perpetuam desde o passado, condições que, aparentemente, caíram no esquecimento. Esclarecê-las é tarefa da história estrutural, à qual os seguintes estudos pretendem ter dado sua contribuição.
No que diz respeito à metodologia, as investigações concentram-se na semântica dos conceitos fundamentais que plasmaram a experiência histórica do tempo. O conceito coletivo de história [Geschichte], forjado no século XVIII, tem aqui um significado predominante. Por meio desse conceito é possível demonstrar que certos mecanismos e formas de elaboração da experiência só puderam emergir a partir do advento da história [Geschichte] vivenciada como um tempo novo, inédito. Nosso conceito moderno de história [Geschichte] resultou da reflexão iluminista sobre a crescente complexidade da “história de fato” ou da “história em si” [“Geschichte überhaupt”], na qual os pressupostos e condições da experiência escapam, de forma crescente, a essa mesma experiência. Isso é válido tanto para a história universal de longo alcance geográfico, contida no conceito moderno de “história em si” ou “história de fato”, quanto para a perspectiva temporal na qual passado e futuro realinham-se recíproca e alternadamente, de maneira contínua. Esta última tese, disseminada ao longo de todo o livro, constitui o objetivo final da categoria da temporalização.
As análises englobam inúmeros conceitos como revolução, acaso, des¬tino, progresso ou desenvolvimento, conceitos capazes de complementar o próprio conceito de história [Geschichte].

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