Sei que essa descrição não é completa e não pode ser completa. É impossível conhecer
inteiramente o Brasil, esse mundo tão vasto. Passei cerca de meio ano neste país e
precisamente só agora sei que, apesar de toda a diligência em aprender e de todo o viajar,
ainda não posso dizer que conheço o Brasil e sei também que uma vida inteira não bastaria
para conhecê-lo. Não vi uma série de Estados, dos quais cada um é tão grande como a
Alemanha e a França ou maior do que elas, não percorri as regiões de Mato Grosso e Goiás,
que mesmo as expedições científicas não percorrem inteiramente, nem as florestas do
Amazonas. Não tenho, pois, um conhecimento perfeito da vida primitiva dessas povoações
espalhadas por um território gigantesco e não posso dar uma noção clara da existência de
todas essas classes que apenas têm contacto com a civilização: a dos barqueiros que navegam
nos rios, a dos caboclos da região do Amazonas, a dos garimpeiros, a dos vaqueiros e
gaúchos, a dos seringueiros e a dos sertanejos de Minas Gerais. Não visitei as colônias
alemãs de Santa Catarina, cujas casas antigas, diz-se, têm pendurado o retrato do imperador
Guilherme e cujas casa, novas, ao contrário, têm o retrato de Adolfo Hitler, nem as colônias
japonesas do interior de São Paulo, e não posso dizer com segurança a ninguém se realmente
ainda algumas tribos indígenas das matas virgens são canibais.
Das paisagens dignas de serem vistas, algumas só conheço de fotografia, gravuras e
livros. Não fiz a viagem de vinte dias de subida no rio Amazonas entre as florestas grandiosas
em sua monotonia, não cheguei até as fronteiras do Brasil com o Peru e a Bolívia, e por causa
das dificuldades da navegação na estação desfavorável tive que deixar de fazer a viagem de
doze dias no Rio São Francisco, o grande rio do interior do Brasil e tão importante na sua
história. Não subi o Itatiaia, o monte de três mil metros de altura, de cima do qual se divisa o
planalto brasileiro com seus cimos até os longes, na direção de Minas Gerais e do Rio. Não vi
a maravilha da cachoeira do Iguassú, que em espumante catarata precipita enormes massas
d’água e cuja grandiosidade, segundo o testemunho de visitantes, excede de muito a do
Niágara. Não penetrei com machadinha e facão na espessura da mata virgem. Apesar de todo
o meu viajar, olhar, aprender, ler e procurar, não penetrei muito além da orla da civilização
do Brasil. Tenho que me consolar com a ideia de haver encontrado apenas dois ou três
brasileiros que puderam afirmar conhecer o âmago quase impenetrável de seu país, e com a de
que estrada de ferro, vapor ou auto, meios esses também impotentes contra a vastidão
fantástica desta terra, não me teriam levado muito além dos lugares até onde fui.
Não me é possível expender conclusões definitivas, predições e profecias sobre o futuro
econômico, financeiro e político do Brasil. Os problemas do Brasil relativos à economia, à
sociologia e à civilização são tão novos, tão especiais e, sobretudo, dispostos de modo tão
indistinto, em consequência da vastidão do país, que cada um deles exigiria um grupo de
especialistas para esclarecê-lo inteiramente. É impossível ter uma noção completa dum país
que ainda não tem uma vista de conjunto completa de si próprio e se acha em crescimento tão
rápido que toda estatística e todo relatório já estão atrasados quando impressos. Do grande
número de aspectos quero salientar principalmente um que me parece o de maior atualidade e
coloca hoje o Brasil numa posição especial entre todas as nações do mundo no que respeita ao
espírito e à moral.
Esse problema central que se impõe a toda geração e, portanto, também à nossa, é a
resposta à mais simples e, apesar disso, a mais necessária pergunta: como poderá conseguirse
no mundo viverem os entes humano pacificamente uns ao lado dos outros, não obstante
todas a. diferenças de raças, classes, pigmentos, crenças e opiniões? É o problema que
imperativamente sempre se apresenta a toda comunidade, a toda nação. A nenhum país esse
problema, por uma constelação particularmente complicada, se apresenta mais perigoso do
que ao Brasil, e nenhum o resolveu duma maneira mais feliz e mais exemplar do que a pela
qual este o fez; é para gratamente testemunhar isso que escrevi este livro. O Brasil resolveu-o
duma maneira que, na minha opinião, requer não só a atenção, mas, também a admiração do
mundo.
inteiramente o Brasil, esse mundo tão vasto. Passei cerca de meio ano neste país e
precisamente só agora sei que, apesar de toda a diligência em aprender e de todo o viajar,
ainda não posso dizer que conheço o Brasil e sei também que uma vida inteira não bastaria
para conhecê-lo. Não vi uma série de Estados, dos quais cada um é tão grande como a
Alemanha e a França ou maior do que elas, não percorri as regiões de Mato Grosso e Goiás,
que mesmo as expedições científicas não percorrem inteiramente, nem as florestas do
Amazonas. Não tenho, pois, um conhecimento perfeito da vida primitiva dessas povoações
espalhadas por um território gigantesco e não posso dar uma noção clara da existência de
todas essas classes que apenas têm contacto com a civilização: a dos barqueiros que navegam
nos rios, a dos caboclos da região do Amazonas, a dos garimpeiros, a dos vaqueiros e
gaúchos, a dos seringueiros e a dos sertanejos de Minas Gerais. Não visitei as colônias
alemãs de Santa Catarina, cujas casas antigas, diz-se, têm pendurado o retrato do imperador
Guilherme e cujas casa, novas, ao contrário, têm o retrato de Adolfo Hitler, nem as colônias
japonesas do interior de São Paulo, e não posso dizer com segurança a ninguém se realmente
ainda algumas tribos indígenas das matas virgens são canibais.
Das paisagens dignas de serem vistas, algumas só conheço de fotografia, gravuras e
livros. Não fiz a viagem de vinte dias de subida no rio Amazonas entre as florestas grandiosas
em sua monotonia, não cheguei até as fronteiras do Brasil com o Peru e a Bolívia, e por causa
das dificuldades da navegação na estação desfavorável tive que deixar de fazer a viagem de
doze dias no Rio São Francisco, o grande rio do interior do Brasil e tão importante na sua
história. Não subi o Itatiaia, o monte de três mil metros de altura, de cima do qual se divisa o
planalto brasileiro com seus cimos até os longes, na direção de Minas Gerais e do Rio. Não vi
a maravilha da cachoeira do Iguassú, que em espumante catarata precipita enormes massas
d’água e cuja grandiosidade, segundo o testemunho de visitantes, excede de muito a do
Niágara. Não penetrei com machadinha e facão na espessura da mata virgem. Apesar de todo
o meu viajar, olhar, aprender, ler e procurar, não penetrei muito além da orla da civilização
do Brasil. Tenho que me consolar com a ideia de haver encontrado apenas dois ou três
brasileiros que puderam afirmar conhecer o âmago quase impenetrável de seu país, e com a de
que estrada de ferro, vapor ou auto, meios esses também impotentes contra a vastidão
fantástica desta terra, não me teriam levado muito além dos lugares até onde fui.
Não me é possível expender conclusões definitivas, predições e profecias sobre o futuro
econômico, financeiro e político do Brasil. Os problemas do Brasil relativos à economia, à
sociologia e à civilização são tão novos, tão especiais e, sobretudo, dispostos de modo tão
indistinto, em consequência da vastidão do país, que cada um deles exigiria um grupo de
especialistas para esclarecê-lo inteiramente. É impossível ter uma noção completa dum país
que ainda não tem uma vista de conjunto completa de si próprio e se acha em crescimento tão
rápido que toda estatística e todo relatório já estão atrasados quando impressos. Do grande
número de aspectos quero salientar principalmente um que me parece o de maior atualidade e
coloca hoje o Brasil numa posição especial entre todas as nações do mundo no que respeita ao
espírito e à moral.
Esse problema central que se impõe a toda geração e, portanto, também à nossa, é a
resposta à mais simples e, apesar disso, a mais necessária pergunta: como poderá conseguirse
no mundo viverem os entes humano pacificamente uns ao lado dos outros, não obstante
todas a. diferenças de raças, classes, pigmentos, crenças e opiniões? É o problema que
imperativamente sempre se apresenta a toda comunidade, a toda nação. A nenhum país esse
problema, por uma constelação particularmente complicada, se apresenta mais perigoso do
que ao Brasil, e nenhum o resolveu duma maneira mais feliz e mais exemplar do que a pela
qual este o fez; é para gratamente testemunhar isso que escrevi este livro. O Brasil resolveu-o
duma maneira que, na minha opinião, requer não só a atenção, mas, também a admiração do
mundo.